O
espetáculo desta quarta-feira (9 /05/2013) no Palco Giratório foi o monólogo “A Nova Ordem
das Coisas”, da Cia. Falácia (RJ), baseado no conto de Machado de Assis “A
Igreja do Diabo”; que mostra um Diabo cansado de atuar no varejo e decide
fundar uma igreja. Novas leis são criadas, mais naturais e mais divertidas de
serem seguidas, a partir do desvirtuamento de leis já instauradas na igreja de
Deus. Tudo ia bem para o Diabo até o momento que ele vê seus fiéis infringindo
as leis de sua igreja para fazerem o bem. Machado de Assis acreditava que
nenhum lado deve ser o verdadeiro: ninguém é de todo bom e nem de todo mau.
Assim como fazemos o mal por um impulso, também podemos fazer o bem por uma
inclinação natural de nossa espécie. Como prega o conto de Machado, o
espetáculo, dirigido por Claudia Ventura com atuação de Alexandre Dantas pode
ser visto de duas maneiras: ou é um espetáculo divertido, brincalhão, e leve ou
é um tanto acomodado, com uma direção permissiva e uma atuação um tanto
mecanizada. Se formos escolher a visão do Diabo, vemos que a dramaturgia não
colocou e pouco tirou do que Machado escreveu não se preocupando com um
tratamento mais acurado do texto; mas, se escolhermos as leis da igreja de
Deus, vemos que a montagem foi fiel ao conto machadiano, buscando inserir num
contexto moderno as críticas do começo do século XX. Mantendo a benevolência
poderíamos dizer que o espetáculo conseguiu divertir os espectadores dando
leveza para um texto denso; mas se nos deixarmos levar pelo impulso do
tridente, diríamos que a comicidade naturalista beirou ao stand up, muito próximo dos códigos televisivos de comédia. O ator
está tão acostumado com o espetáculo que a mecanização dos movimentos afoga o
texto, tornando tudo uma massa inaudível e incompreensível, interrompida vez ou
outra por uma brincadeira de auditório. Além disso, houve muitos enxertos
desnecessários, como longos solos de violão. Mas tudo isso pode ser esquecido e
perdoado se deixarmos as leis de Deus invadir nossos corações, já que todos
somos bons e maus. Independente de qualquer opinião técnica, o espetáculo
divertiu o público presente que encheu o teatro do SESC Arsenal em plena
quarta-feira, rindo, disposto e entregue à diversão. Por este feito a Cia
Falácia merece o apreço de Deus, e a benevolência do Diabo. Estão juntos desde
2008, com a criação deste espetáculo e trazem para o Palco Giratório mais uma peça,
que será apresentado na quinta-feira, “Amor Confesso”, a partir de oito contos
de Arthur Azevedo. Uma comédia bem recomendada nacionalmente. Não perca os
espetáculos do Palco Giratório que prometem inflar a cidade com produções
nacionais e locais, fornecendo um panorama da produção cênica do país. A
entrada é só um litro de leite longa vida, ou R$ 3,00! Nos encontramos lá.
Juliana Capilé (Colaboração de Tatiana Horevicht)
Cia
Pessoal de Teatro
Integrante
do Coletivo à Deriva