terça-feira, 23 de julho de 2019

Cia Pessoal de Teatro também é Cinema!

Gravação do curta O Menino e o Ovo. Foto: @vihmolima/@photosmolina
Teatro e cinema sempre tiveram uma relação estreita. Os primeiros grandes cineastas vieram do teatro, como Meliès e Chaplin, e  Max Reinhardt  e Peter Brook , ambos com uma carreira consolidada no teatro, fizeram a diferença também no cinema, só para ficar em dois exemplos. Na história da Cia Pessoal de Teatro não foi diferente. "Desde o início da minha carreira, ainda em Cuiabá, sempre estive entre o cinema e o teatro", revela Juliana Capilé, atriz, diretora e dramaturga que possui mais de 30 anos de carreira no teatro, 20 anos à frente da Cia Pessoal de Teatro ao lado de Tatiana Horevicht.
Encontros Possíveis 2014 - Foto: Arquivo
Cia Pessoal de Teatro

A companhia nasceu em 2001, com a montagem do espetáculo Primeira Pele, em Ouro Preto-MG, onde as fundadoras cursavam a graduação em Direção Teatral. Com Primeira Pele participaram de inúmeros eventos e realizaram duas turnês em Minas Gerais. Quando a companhia migrou para Cuiabá, deu início ao Núcleo de Pesquisas Teatrais que deflagrou na criação do Movimento de Teatro, um fórum de discussões políticas para união do segmento, e no Encontros Possíveis, um seminário prático-teórico de estudos teatrais. Em 2013 o evento se tornou internacional com a participação de Roberta Carreri e Jan Ferslev, do Odin Teatret da Dinamarca. O intercâmbio ficou
Marcelo Bones e Eugenio Barba - Encontros Possíveis 2015. Foto: Arquivo

mais intenso com as participações de Eugenio Barba, Julia Varley e João Brites em 2015. Em 2016 as atrizes passaram a viajar com frequência para a sede do grupo Odin, trabalhando no espetáculo EntreNãoLugares, que estreou no Nordisk Teaterlaboratorium Festival, em Holstebro - DK, com direção de Julia Varley.

Julia Varley. Foto: Fred Gustavos
O intercâmbio com o grupo dinamarquês se desdobrou na participação da companhia no Nordisk Teaterlaboratorium, uma plataforma de intercâmbio, produção e pesquisa teatral desenvolvido pelo diretor do Odin Teatret, Eugenio Barba e coordenado pelo elenco e por todo o staff. Como integrantes do NTL, as atrizes tinham passe livre nas dependências do edifício, além de ter à disposição para a montagem o que o NTL pudesse oferecer, como recursos materiais e pessoais. Como parte do acordo, elas trabalhavam em atividades artísticas em eventos que o NTL promovia na cidade de Holstebro, como performances e intervenções artísticas no Centro de Refugiados, na Casa da Mulher Imigrante ou outros locais. Trabalhar com pessoas imigrantes e refugiados, além de conviver com vários artistas de várias partes do mundo, enriqueceu bastante a experiência teatral das atrizes e elas voltam para Cuiabá e vão direto para o set de gravação.


https://odinteatret.dk/ntl-nordisk-teaterlaboratorium/ntl-co-productions/
https://odinteatret.dk/ntl-nordisk-teaterlaboratorium/


Do palco para o set


Em abril deste ano (2019) Juliana  filmou seu primeiro curta, O Menino e o Ovo, estreando como roteirista e diretora de cinema. O filme conta a trajetória da Joana (Malu Tozato), uma garota de 8 anos que tenta descobrir se é verdade que um ovo frita no asfalto de Cuiabá, de tão quente que é o chão.
Gravação do curta O Menino e o Ovo. Foto: @vihmolima/@photosmolina

O roteiro foi premiado no edital de cinema da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso - SeCEL e conta com a parceria da Produtora Infinity. O filme também faz parte do Box de Curtas 2019, uma experiência que está conseguindo trazer um impulso para o audiovisual mato-grossense com a execução de uma ideia simples: unir as forças. A ideia partiu da produtora executiva Bárbara Varela, que decidiu unir os recursos dos curtas contemplados com recursos de um edital da Secretaria de Estado de Cultura e otimizar esses recursos para conseguir uma melhor negociação. O resultado em 2017 foi a realização de 5 curtas metragens que totalizaram mais de 60 prêmios em festivais nacionais e internacionais. Veja as reportagens sobre esse assunto: 


https://www.olivre.com.br/box-de-curtas-movimenta-cinema-mato-grossense-com-tres-novas-producoes/amp/
https://pensarcultura.com.br/apos-sucesso-da-1a-edicao-box-de-curtas-produz-mais-tres-filmes-em-cuiaba/

As integrantes da Cia Pessoal de Teatro, Juliana Capilé e Tatiana Horevicht trabalharam no Box de Curtas 2017 como preparadora de elenco e atriz, respectivamente, levando toda a experiência de teatro da dupla para o cinema. "A atuação para cinema é bastante diferente da do teatro. No teatro o ator se relaciona com o espaço, com a presentificação e busca um extra cotidiano; no cinema toda atuação parte do naturalismo", revela Tatiana.
Tati Horevicht no set de gravação de "Ciranda" - Box de Curtas 2017. Foto: Wers Gravaluz
Tatiana iniciou sua participação no cinema como atriz no filme Le Mur, do diretor Severino Neto, em 2014. Este foi o segundo filme de Severino Neto em que Juliana trabalhou como preparadora de elenco, iniciando nessa função com o curta 3,60, também de Severino Neto, a convite da produtora de cinema Keiko Okamura. Depois de vários trabalhos com curtas, Juliana preparou o elenco da série
Bárbara Varela e Marcelo Biss. Foto: Wers Gravaluz
Cidade Invisível da produtora Forest Comunicação, com sede em Brasília, que envolveu um elenco mato-grossense e paraense. "Foi uma grande experiência esse trabalho; eu gostei muito, principalmente por causa do roteiro, do tema da obra e por ter conhecido de perto o trabalho dos atores do Pará, que foram fantásticos", lembra Juliana.
Depois disso veio o convite da Bárbara Varela para preparar o elenco do Box de Curtas 2017. "Não era para um filme só; era para cinco!", conta Juliana, "um mais lindo que o outro!". Para ela a preparação de elenco não substitui a direção de elenco e nem tenta fazer o trabalho do diretor. O preparador vai acompanhar o trabalho do ator para que sua atuação esteja em sintonia com os objetivos do diretor e que possa desempenhar seu trabalho de forma mais eficiente. "Normalmente o ator faz esse trabalho sozinho e poder contar com um profissional auxiliando é um luxo que o Box de Curtas conseguiu oferecer para seus filmes", completa.
Preparação de elenco Box de Curtas 2017. Foto: Wers Gravaluz 
Dos cinco filmes do Box, Tatiana atuou em dois: Aquele Disco da Gal, de Juliana Curvo e Diego Baraldi e Ciranda, de Angela Coradini e Fellippy Damian. A performance de Tatiana nos curtas lhe rendeu o convite para o elenco principal do longa de Severino Neto, Batalha de Shangrilá, atuando ao lado de Gustavo Machado, Maria Ceiça e Ingrid Liberato. O longa está em processo de finalização, aguardado com muita expectativa. Este é um filme fruto do avanço do audiovisual mato-grossense onde todos saem ganhando: produtores, realizadores, artistas e claro, o público.

Odilon Wagner e Suzi Pires. Foto: divulgação
O Anel de Eva também foi filmado em 2019, com Suzana Pires, Odilon Wagner, Rafael Golombek, Laize Câmara, Sandro Lucose, Luciano Botoluzzi, Amauri Tangará e Lis Luciddi. Juliana trabalhou na preparação de elenco e no acompanhamento de set. Foi o primeiro longa metragem do Duflair Barradas, da Latitude Produções, que provou sua competência.
https://www.rdnews.com.br/cultura/conteudos/114894

https://www.midianews.com.br/cotidiano/com-direcao-e-roteiro-de.../352434


Cinema mato-grossense

O cinema em MT está crescendo cada vez mais. Marcelo Biss, diretor de fotografia com mais de 30 anos de experiência no audiovisual nacional e internacional observa que "nosso estado possui uma luz que não se encontra em nenhum outro. Um fotógrafo que vem fazer uma luz aqui, se surpreende com as cores e a incidência de luz que encontra. É um talento, digamos assim, uma potencialidade que o Estado tem, sem falar na beleza natural", revela ele. "Temos Pantanal, temos Chapada, temos cerrado e Araguaia; cenário por aqui não falta".
A questão é: esse potencial todo está sendo aproveitado?
Uma coisa é certa: existem muitos profissionais do audiovisual por aqui, fazendo coisas incríveis! Não perca a chance de conferir.


Juliana Capilé




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