Núcleo de Pesquisas Teatrais Encontros Possíveis

2 a 5 de dezembro de 2014 em Cuiabá e Chapada dos Guimarães-MT

Cidade dos Outros

A vida é um jogo que deve ser vencido a qualquer custo, mas o que se pretende ganhar?

Primeira Pele

O espetáculo traça o signo desta companhia que busca o aprimoramento e a intersecção das linguagens artísticas em seus espetáculos

Criadouro

O espetáculo trata do tema contemporâneo do consumo e o quanto a ganância pode ser fatal

terça-feira, 30 de abril de 2013

Cia Pessoal no Projeto Sesc Cena Mato Grosso!

De 24 a 26 (abril de 2013), estivemos em Rondonópolis para participar do Sesc Cena Mato Grosso. Grande honra para nós fazer parte da inauguração de um novo espaço cultural para o Estado, que busca contribuir para a difusão dos espetáculos da região e nacionais, e ainda fomentar a produção que se mostra forte em Rondonópolis. Quem ganha com tudo isso é, sem dúvida, a cidade, que tem potencial para se tornar um novo pólo de pesquisa e difusão teatral, como já foi em outros tempos. A equipe que nos recebeu foi muito atenciosa e o espaço tem tudo para fomentar a cena por lá.

Apresentamos CIDADE DOS OUTROS de uma forma inusitada: no palco italiano! Estranhamos bastante, pois já estávamos acostumadas com o formato arena, mas fizemos essa concessão porque era mais apropriado e não queríamos que os espectadores rondonopolitanos ficassem sem ver o espetáculo por falta de espaço para apresentá-lo. E afinal, fomos para a inauguração de um palco italiano, não foi? Então. Como diz minha mãe, em terra de canguru, de cócoras com ele!! Foi bom mesmo assim. (Ao menos para a gente, é claro!)
Como parte do Projeto, tivemos um tempo de compartilhamento com um grupo local. Num dia conversamos sobre nosso trabalho e no outro, sobre o trabalho deles. Nosso compartilhamento foi com o Circo Bororol; um grupo muito promissor, com grandes talentos e um pessoal muito afim de pesquisa e inovação. Notamos um potencial muito latente de trabalho e ficamos com muita vontade de estreitar a distância e tentar um intercâmbio com eles. Vamos torcer para virar realidade!
Vimos a disposição do Sesc Mato Grosso em investir nas artes cênicas e, principalmente, na pesquisa cênica, e isso é muito positivo para o avanço cultural do nosso Estado. O Sesc é um grande parceiro do teatro mato-grossense e está em uma posição muito estratégica, de articulador da cena teatral, realizando a interface entre o Estado e a cena nacional. Projetos como esse demonstram que o Sesc tem consciencia de seu papel na qualificação do nosso produto teatral, pois não adiantaria existir os espaços culturais sem os projetos para movimentar tudo isso. Parabéns, equipe do Sesc Mato Grosso e do Sesc Rondonópolis; o trabalho de vocês garante um Estado mais rico artisticamente, e com mais valor cultural!
Os espetáculos vão até 05 de maio e prometem agitar a cidade! Abaixo, a programação:
24 de abril - a partir das 20h – Cidade dos Outros, Cia Pessoal de Teatro, Cuiabá;
25 de abril - a partir das 20h – O Dia de Rir, Circo Borobol, Rondonópolis;
27 de abril - a partir 17h – O Pequeno Príncipe, Cia Teatro de Brinquedo, Cuiabá;
27 de abril - a partir 20h – Ela Lava, Ele Enxuga, Cia Thereza João, Cuiabá;
28 de abril - a partir 17h – Jacuba, Cia de Arte Joelson Santos, Rondonópolis;
28 de abril - a partir 20h – Pas-de-Deux, Cia Porrada, Cuiabá;
30 de abril - a partir 20h – Tenho Flores no Pé, Comadança, Cuiabá;
01 de maio - a partir 20h – Santa Joana dos Matadouros, Teatro Experimental, Alta Floresta;
02 de maio - a partir 20h – Rei de Espadas, Cia Vostraz de Teatro, Várzea Grande;
03 de maio - a partir 20h – Fragmentos, Academia Líder, Rondonópolis;
04 de maio - a partir 17h – Fiu Fiu, Grupo Tibanaré, Cuiabá;
05 de maio - a partir 17h – O Menino e o Céu, Cia Faces, Primavera do Leste.

Grande abraço ao pessoal do Circo Bororol - foi um grande prazer dividir esse momento com vocês! Vida longa à esse tão jovem grupo, que muito tem a oferecer para a cena mato-grossense e nacional!

Beijos!
CIA PESSOAL DE TEATRO



terça-feira, 23 de abril de 2013

Nosso amigo e parceiro Waldir Bertúlio está sempre escrevendo coisas lindas sobre nosso espetáculo Cidade dos Outros. Posto aqui mais um de seus artigos, veiculado em jornais e no seu blog waldirbertulioopina.blogspot.com.

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Tive o prazer de ver e ouvir artistas/cantores, músicos do mais alto nível, em celebração espontânea ao aniversário de Cuiabá. A musa canora Vera Capilé colocou sua voz reboando na desprezada e triste cidade velha, lá na Praça da Mandioca, em homenagem a Cuiabá, cancioneira e seresteira. Lá estava Mestre Bolinha, Júlio Coutinho e Márcia, Pio Toledo e Hellen, Guapo, e tantos outros. A fala poética e dramática na expressão do grande artista Neneto homenageando a Cuiabanália. A força cinematográfica de Glorinha Albues, trazendo às telas Liu Arruda, nosso ícone, junto com Glauber Rocha. Gomes está de parabéns por essa iniciativa, como grande protagonista da nossa arte na gestão do som da melhor qualidade, ampliando acesso para garantir música. Ele resolveu intervir sobre a grande “mancada” da Secretaria Municipal de Cultura, infelizmente alheia ao cotidiano das nossas raízes culturais, quando impôs uma exclusão dos nossos talentos musicais—imposição unilateral de megaapresentação dentro de uma só corrente musical, com participação também de grupos vindos de fora. Quanto custou? Nunca vi a Praça da Mandioca tão lotada de gente festando, dançando, cantando, e com tantos artistas de alto nível que temos em nossa terra. É preciso colocar esses eventos em mãos de quem conhece minimamente nossa encantadora diversidade cultural. Já bastava a suspensão do desfile de Carnaval, transferindo o desfile de escolas e blocos para agora, em função da negociação com a escola de samba carioca Mangueira. Estes tipos de eventos transformaram-se em objetos rigorosamente mercadológicos, onde potencialmente imiscuem-se em águas turvas o financiamento público com os interesses privados. Ouvimos também lá o belo samba-enredo do compositor e carnavalesco Davi. Transferência insensata, que esvaziou de fato a marca da tradição carnavalesca em nossa cidade. Não se tem idéia do que seja um marco cultural, muito menos os acalantos que habitam o imaginário social de nossa cidade e de nossa gente. Entendo que o retrocesso vai sendo ampliado desse jeito, com a tal visão empresarial que pode dar conta do mercado, não dos interesses coletivos. O que assistimos é “um tapa na cara” dos protagonistas e atores culturais da nossa terra. Ainda bem que os artistas resistem e enfrentam este cenário desfavorável, que amplia uma crise identitária em razão de áulicos que estão lixando-se para a nossa historia cultural, especialmente no acúmulo da qualidade e da participação social. Cultura, mexe com subjetividade, não é como produzir construções, porcas e parafusos. Precisa muito mais. É uma pena que isso possa revelar compadrio, interesses menores e excludentes. Quem sabe, por exemplo, que dentro da qualificada diversidade das nossas artes existe uma peça teatral de dramaturga da terra, “Cidade dos Outros”? Uma grandeza na sua complexidade, que expõe as vísceras dos dilemas e tragédias humanas de Cuiabá e todas as cidades do mundo. A peça tem tantas instâncias de interpretação, centradas no inconsciente coletivo e seus cenários emblemáticos em nossos ciclos de vida. Fala de hoje, do que estamos tratando, da estrutura comportamental e divergente dos nossos padrões de relações, incorporando em uma só peça e roteiro tantas histórias e verdades, em um passeio de miscigenação entre a realidade e a ficção. Um quebra-cabeças, que deveria ser de desdobramento até para uma nova linguagem teatral, podendo dispensar palavras, sobrepondo e valorizando a concretude, a superposição de revelações, sons e movimentos. Expressão do teatro contemporâneo, que deveria estar percorrendo por vários lugares nestes tempos, como a dizer que a evolução/involução, o crescimento/fenescimento nos padrões da estrutura e funcionamento da nossa cidade, agem contra as pessoas que nela vivem. É esta a dinâmica da cultura que buscamos nas artes: romper com a mesmice, com nossa abominável submissão e apatia, e mesmo com o desprezo e a ignorância do outro, enquanto sujeito da construção da decência, alegria e felicidade. Qual outro? Aqui, pode ser o povo excluído, o Estado, o poder público em sua incúria política, fechando os olhos à luta pela sobrevivência e dignidade. Imaginem a distância que estamos em ver a descentralização efetiva da cultura como corolário das políticas públicas. Ir ao povo onde ele está, nas suas singularidades. Assim, Cuiabá é a expressão típica da “Cidade dos Outros”, que tive o prazer de assistir mais uma vez lá no SESC-ARSENAL. É impressionante o desempenho das duas artistas (Juliana Capilé e Tatiana Horevitch), que nas suas interpretações podem até dispensar a escrita, em expressões corporais falando dos nossos dilemas, da ética perdida, e dos nossos lugares de vida. Pois é, Cuiabá é nosso lugar de vida. É possível lutar contra a sua desfiguração estética e social. Saudações aos que amam e lutam por esta terra."
WALDIR BERTULIO