O grupo Teatro
Ventoforte (SP) apresentou dois espetáculos no Circuito Especial do Palco
Giratório: História de Lenços e Ventos
e As 4 Chaves. O espetáculo História de Lenços e Ventos completa 40
anos de existência! Foi concebido em plena ditadura militar da América Latina e
trabalha temas espinhosos, como a opressão, a supressão da liberdade, a
violência física, e a frustração; tudo isso para crianças. O grupo trabalha com
linguagem infantil, ensinando através da arte, se preocupando em transmitir um
pensamento, antes de tudo, libertário. Mistura no mesmo espaço, o ator e o
boneco, cantando e dançando, celebrando a vida numa grande festa. O espetáculo História de Lenços e Ventos (18/05) é
uma grande brincadeira de quintal. Tudo parece uma bagunça sem fim, mas logo se
pode perceber que cada coisa tem seu lugar e seu espaço, como uma grande caixa
de brinquedos. O dono da caixa é Ilo Krugli, um palhaço nascido na argentina,
diretor, ator, dramaturgo e mentor do
Ventoforte, que viveu na carne os mais duros anos da ditadura, mas que ainda
trabalha e deseja um mundo melhor. É dele que sai a energia do grupo e a
proposta mais contundente: falar para a criança e para os que não deixaram de
ser crianças. E é como crianças que devemos participar: coração aberto e puro.
O desavisado pode se chocar e acabar perguntando: onde vamos parar com isso? O
que interessa é o caminho e não o desfecho da história. No espetáculo a
história muda de rumo como o vento do título, sem se preocupar em continuar
nada. Começa de um jeito, toma outro rumo, antecede trechos, volta e retoma,
num ritmo que lembra mais uma criança brincando do que um espetáculo
convencional de teatro. Há momentos fantásticos em que a história deixa de ser
contada porque o ator não quer dar o texto por considerar forte demais aquela
notícia. Somos chamados para a brincadeira pelos bonecos Manuel e Manuela,
manipulados pelo próprio Ilo, que têm uma personalidade caótica e
temperamental, lembrando bastante os bonecos de feira do nordeste. Por uma
confusão difícil de descrever, Manuel e Manuela se trancam numa mala e decidem
que não farão o espetáculo. O elenco precisa, então, tomar outro rumo e
resolvem fazer outra história a partir dos lenços que eles trazem consigo.
Conhecemos a Azulzinha, um lencinho muito simpático, cujo sonho é aprender a
voar. No desejo de realizar o seu sonho Azulzinha se mete em muitas aventuras,
indo parar no Reino Medieval, sequestrada para casar com o Rei de Metal.
Acontece que a intrépida personagem possui um admirador, o Papel, que ela
conheceu no quintal onde morava. Papel faz de tudo para salvar sua amada,
lutando para superar a opressão tirânica e a violência. Num momento
impressionante, um homem encapuzado sequestra Papel e o queima numa bacia.
Frustração. O elenco fabrica outro boneco, um Papel mais forte com o coração de
celofane. Ele ganha escudo e lança e vai lutar com o Rei de Metal para
conquistar Azulzinha. Como a luta é de sombras, o Papel ganha do Metal e tudo
acaba em música. Inevitável sentirmos os ares da história; o espetáculo fala da
ditadura o tempo todo. O desaparecimento de Azulzinha; a opressão do rei
tirano; a cidade Medieval, onde tudo é arrumadinho e perfeito; a destruição do
corpo do personagem Papel e sua reconstrução, mais forte; alegorias de uma
época que inspirou o espetáculo e que formou a base forte do grupo. Vida longa
ao Ventoforte e à IloKrugli; que sua contribuição se multiplique pelos corações
que tocou com sua arte.
Juliana
Capilé e Tatiana Horevicht
CIA
PESSOAL DE TEATRO