terça-feira, 21 de maio de 2013

O VENTO FORTE QUE ESPANTA A DITADURA – Resenhas Teatrais do Palco Giratório 2013



O grupo Teatro Ventoforte (SP) apresentou dois espetáculos no Circuito Especial do Palco Giratório: História de Lenços e Ventos e As 4 Chaves. O espetáculo História de Lenços e Ventos completa 40 anos de existência! Foi concebido em plena ditadura militar da América Latina e trabalha temas espinhosos, como a opressão, a supressão da liberdade, a violência física, e a frustração; tudo isso para crianças. O grupo trabalha com linguagem infantil, ensinando através da arte, se preocupando em transmitir um pensamento, antes de tudo, libertário. Mistura no mesmo espaço, o ator e o boneco, cantando e dançando, celebrando a vida numa grande festa. O espetáculo História de Lenços e Ventos (18/05) é uma grande brincadeira de quintal. Tudo parece uma bagunça sem fim, mas logo se pode perceber que cada coisa tem seu lugar e seu espaço, como uma grande caixa de brinquedos. O dono da caixa é Ilo Krugli, um palhaço nascido na argentina, diretor, ator, dramaturgo e mentor do Ventoforte, que viveu na carne os mais duros anos da ditadura, mas que ainda trabalha e deseja um mundo melhor. É dele que sai a energia do grupo e a proposta mais contundente: falar para a criança e para os que não deixaram de ser crianças. E é como crianças que devemos participar: coração aberto e puro. O desavisado pode se chocar e acabar perguntando: onde vamos parar com isso? O que interessa é o caminho e não o desfecho da história. No espetáculo a história muda de rumo como o vento do título, sem se preocupar em continuar nada. Começa de um jeito, toma outro rumo, antecede trechos, volta e retoma, num ritmo que lembra mais uma criança brincando do que um espetáculo convencional de teatro. Há momentos fantásticos em que a história deixa de ser contada porque o ator não quer dar o texto por considerar forte demais aquela notícia. Somos chamados para a brincadeira pelos bonecos Manuel e Manuela, manipulados pelo próprio Ilo, que têm uma personalidade caótica e temperamental, lembrando bastante os bonecos de feira do nordeste. Por uma confusão difícil de descrever, Manuel e Manuela se trancam numa mala e decidem que não farão o espetáculo. O elenco precisa, então, tomar outro rumo e resolvem fazer outra história a partir dos lenços que eles trazem consigo. Conhecemos a Azulzinha, um lencinho muito simpático, cujo sonho é aprender a voar. No desejo de realizar o seu sonho Azulzinha se mete em muitas aventuras, indo parar no Reino Medieval, sequestrada para casar com o Rei de Metal. Acontece que a intrépida personagem possui um admirador, o Papel, que ela conheceu no quintal onde morava. Papel faz de tudo para salvar sua amada, lutando para superar a opressão tirânica e a violência. Num momento impressionante, um homem encapuzado sequestra Papel e o queima numa bacia. Frustração. O elenco fabrica outro boneco, um Papel mais forte com o coração de celofane. Ele ganha escudo e lança e vai lutar com o Rei de Metal para conquistar Azulzinha. Como a luta é de sombras, o Papel ganha do Metal e tudo acaba em música. Inevitável sentirmos os ares da história; o espetáculo fala da ditadura o tempo todo. O desaparecimento de Azulzinha; a opressão do rei tirano; a cidade Medieval, onde tudo é arrumadinho e perfeito; a destruição do corpo do personagem Papel e sua reconstrução, mais forte; alegorias de uma época que inspirou o espetáculo e que formou a base forte do grupo. Vida longa ao Ventoforte e à IloKrugli; que sua contribuição se multiplique pelos corações que tocou com sua arte.

Juliana Capilé e Tatiana Horevicht
CIA PESSOAL DE TEATRO