Núcleo de Pesquisas Teatrais Encontros Possíveis

2 a 5 de dezembro de 2014 em Cuiabá e Chapada dos Guimarães-MT

Cidade dos Outros

A vida é um jogo que deve ser vencido a qualquer custo, mas o que se pretende ganhar?

Primeira Pele

O espetáculo traça o signo desta companhia que busca o aprimoramento e a intersecção das linguagens artísticas em seus espetáculos

Criadouro

O espetáculo trata do tema contemporâneo do consumo e o quanto a ganância pode ser fatal

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

CIDADE DOS OUTROS

(Única apresentação)

Data: 17 / 09 / 2013
Hora: 19h30
Local: Auditório da ADUFMAT (Oca)
Entrada Franca

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Crítica: "Simples Assim", de Marília Beatriz


"Cidade dos outros permite várias miradas e, sendo assim possibilita ao espectador atitudes de recolhimento reflexivo, contemplação da cena teatral como explicitação de estética arrojada e oitiva atenta de um texto que apresenta a cotidianidade com saberes transpassados pela diversidade contemporânea.
O artifício cênico mais que sublinhar a representação contextualizada aparenta chamar a atenção para aquilo que de tão ocasional passa despercebido e/ou divide opiniões. Assim é que o acidente de carro atravessa todo o espetáculo como recurso que inicia o ambiente teatralizado e vai destecendo aos olhos dos personagens e do público o que a percepção apesar de anotar não registra com exatidão. A precariedade do sentido da visão indica , ao contrário do que podia estar no texto,a coloração de uma gama variada de sentidos que a todo o momento uma ou outra personagem, um próprio ou um outro, explicitam o acidente com sua incidentalidade. Incidental é o desempenho do texto, é a interpretação máxima aparentada nos corpos e nas vestes das atrizes. É a contemporaneidade fugindo dos jargões conceituais e se metendo na dolorosa vida. Contemporânea é a vida que se mostra que fere e que pode ser avaliada pelos desejos temporais e ambientais.
A máquina sublinha a validade de um homem robotizado? Ou o mesmo aparato tangencia a volatilidade esfacelada disso que o imaginário sugere como múltiplo, disso que Cidade dos Outros apropria e faz na realidade o imaginário. Penso que o olhar mais atento apreende dores, lutos e emoções que dificilmente são mostradas num tempo tão cênico. Em verdade creio que a cena que vi não é uma cena, mas um pedaço da vida devida. As amarrações, as cadeias, os rangidos tudo é parcela importante da comunicação entrecortada, cujo viés traduz o caráter oral da peça e a beleza da plasticidade que se desenrola o tempo todo num jogo de vida e morte.
Parece que por ser a Cidade dos Outros de algum modo todo mundo se apropria desse espaço/espetáculo e passa a exigir o silêncio todo tempo anunciado. Cidade que se avizinha de tantos rumores, de tanto disse-me-disse, que pede não apenas palmas, mas o anúncio de novos tempos para o Teatro e para a Vida que se faz Teatro. Não se trata de mesmice, porém de um outro que pode ser o mesmo. Isso é a prova que um espetáculo de altíssimo nível, pleno de um arrojado arranjo estético pode provocar numa espectadora desavisada como eu.
Cuiabá, tarde qualquer de um domingo de agosto 2013."

Publicado em http://www.circuitomt.com.br/flip/456

Marília Beatriz é professora da UFMT,mestre em Comunicação e Semiótica (PUC/SP), e a mais nova membro da Academia Mato-grossense de Letras.

domingo, 1 de setembro de 2013

Crítica: Cidade dos Outros no Projeto Artes no IL: uma semana de teatro e verdade - por Teresinha Prada


Após uma semana em cartaz (de 26 a 30 de agosto) na sala 06 do Instituto de Educação – gentilmente cedida para o Projeto Artes no IL – , a peça teatral Cidade dos Outros terminou sua participação. Um bom público compareceu ao espetáculo, atrás de qualidade em Arte, e a expectativa foi alcançada.
O texto, vencedor do Prêmio Mirian Muniz (Funarte), é de autoria de Juliana Capilé e em cena estão ela mesma e Tatiana Horevicht. Mas será que somente as duas atrizes estão em cena?
Uma máquina enorme ocupa quase toda a sala e a ação começa. Logo descobrimos que, mais que a máquina gigantesca,  enchem o espaço o tom de vozes e os gestos das personagens, que saem como uma flecha a nos atingir em cheio – tanto é assim que assistimos a várias pessoas na plateia gesticulando junto, respondendo ao texto, tamanha é a verdade de atuação das atrizes e a qualidade envolvente do diálogo, que torna personagens seres íntimos e muito reconhecidos de todos, em qualquer cidade do mundo.
A máquina, per si, engendra um movimento, mas é em vão. Move-se circularmente,
não sai do lugar – metáfora de vidas.
O texto de Capilé é tocante, sem concessão: incomoda. O reconhecimento do diálogo, com a situação gerada, é imediato e crescente, para quem tem olhos para ver, ouvidos para ouvir, a perceber o mal que pode significar ser e não-ser numa cidade. 
Ao non sense, ao absurdo, à crueza, soma-se a infantilidade das personagens – dois  despossuídos – que discordam,  mas amenizam suas rudezas para suportar melhor – juntos – o dia a dia.
A crença na sorte como única possibilidade de mudar suas vidas –  o dinheiro vindo assim fácil pela aposta no jogo.
À espera da mudança em seus destinos; passada com simplicidade em soluções, cheia de lugares-comuns, vidas rascunhadas apenas, com lampejos de discernimento – logo postos de lado, pois ameaçam o equilíbrio, revelariam o vazio de suas vidas.
Falas de gente anônima, receptores do desprezo social.
De invisíveis.
Crônica dos males e males crônicos.
Para que dividir se você pode se dar bem sozinho?
E o homem? Ser racional, “acima” das outras espécies?
O que faz? Escorraça-as – “um cavalo caiu no buraco”
Quem cuida? Quem o salva? – não vale a pena.
Mas tragédias são reconhecíveis, são comentadas,
Um caminhão passou por cima de um carro
Afinal “ele se safou” – espanto geral, de tanto espanto até entretém
E torce e retorce na mesma notícia
Inteligentemente, a única obra musical da peça é uma ciranda de roda,
como a nos dizer como éramos ingênuos quando pequeninos e
como nos tornamos cruéis e massificados pela roda viva do mundo adulto.
Sons vêm da esquizofonia do rádio de uma das personagens
A escutar qualquer coisa... vozes, noticiário, a hora do Brasil... tanto faz.
É preciso passar o tempo
E girar pelo espaço
Andar e chegar ao mesmo lugar.


 Teresinha Prada – Bacharel em Música, Violão, pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP);  Mestre em Produção Artística e Crítica Cultural pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina – Prolam, da Universidade de São Paulo (USP); Doutora em História Cultural USP;  pesquisadora e docente na graduação em Música e no Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso.