quinta-feira, 8 de setembro de 2011
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Cia Pessoal de Teatro no Odin Teatret
Foram dez dias de intenso aprendizado. Acordávamos às 6h das geladas e molhadas manhãs dinamarquesas para conseguir escovar dente e tomar banho antes de encontrar o banheiro ocupado. Tentávamos alongar um corpo que queria mais era se encolher, para estarmos prontos para Augusto Omolú e sua dança dos Orixás. Incrível atravessar o Atlântico para conhecer os orixás assim, tão de perto, na pele de um bahiano. Mundo pequeno. O treinamento é incrível e me fez pensar sobre não termos um treinamento corporal de tradição que seja brasileiro; essa afirmação cai por terra nas aulas de Omolú. Temos a dança dos Orixás, a capoeira, o maracatu, todos com tradições de treinamentos corporais que poderiam fornecer a corporalidade teatral à la brasileira, como os pesquisadores procuram. Será?
Tínhamos conversas com a equipe do Odin Teatret todos os dias e ouvíamos Eugênio Barba palestrar quase todos os dias. Mas o mais incrível foi assistir às demonstrações de trabalho dos atores do Odin e ver seus espetáculos.
Odin Teatret é um grupo de pesquisa mais antigo que conheço: vão fazer 50 anos de existência. Tem uma história bastante curiosa de temporadas mambembes e direção única, numa época em que a criação coletiva imperava. No início dos anos 1966 eles receberam o convite da prefeitura de Holstebro para montarem sede na cidade, e receberam uma antiga fazenda de presente da prefeitura. A cidadezinha estava acabando, com seus habitantes indo embora, e o prefeito resolveu investir em arte (um santo homem!) Transformaram esta fazenda num espaço cultural de teatro de pesquisa. Até hoje recebem subsídio do governo dinamarquês e da prefeitura de Holstebro.
É um grupo que se preocupa com o trabalho do ator e todas as demonstrações são de pesquisas corporais e vocais. Recentemente, nos últimos 20 anos, também adotaram pesquisas musicais com os trabalhos do Frans Winther, Kai Bredholt e do Jan Ferslev.
Os atores possuem particularidades que são respeitadas pela direção: Julia Varley tem uma pesquisa mais vocal que corporal e prefere falar em inglês nos seus espetáculos solos; Iben Rasmussen possui mais uma pesquisa corporal e vocal bastante forte e busca dramaturgias bastante ligadas a sua história pessoal; Roberta Carreri tem forte pesquisa corporal, fala em italiano nos solos e partitura de ação bastante pautada na dramaturgia do ator. O Tage Larsen é um pouco de cada. A grande dama, Else-Marie é a mais velha atriz do Odin e nos apresentou seu vídeo de demonstração de trabalho. É dela a criação mais emblemática do Odin, que é a personagem Andrógina.
Uma parte importante da experiência foi ter contato com profissionais do teatro do mundo todo: Itália, França, Estados Unidos e Espanha, Romênia, Estônia, Irã, Colômbia, Bósnia-Herzegovina, Canadá, UK e tantos outros. Brasileiros éramos 5, contando com o Augusto Omolú, seis; mas organizamos uma comunidade da língua portuguesa com os amigos portugueses. Toda a equipe do Odin compreende o português e a comunicação é tranquila..
Recomendamos a todos esta experiência. Fiquem atentos ao edital do ano que vem, quando rola a inscrição para o Odin Week Festival. O site é www.odinteatret.dk. Boa viagem teatral!