sexta-feira, 16 de maio de 2014

PALCO GIRATÓRIO: Porto Alegre

Genival montando a Urbitária

Bah! Porto Alegre foi tri legal!! Conhecemos a Lia Motta, que foi nosso anjo da guarda na cidade - a melhor anjo que alguém pode ter!!! Tivemos contato com a Jane Schoninger, coordenadora de Cultura, que é uma simpatia de pessoa. Na unidade também contamos com a ajuda do Xandão e do Osmar, nos auxiliando em tudo que precisamos para a montagem. Normalmente os técnicos gostam bastante da máquina de cena, justamente porque não precisam afinar luz, seguir mapa técnico, rider e nem nada. A Urbitária faz tudo. Aliás, ela é o próprio espetáculo! Por conta dela costumamos não dar muito trabalho para os técnicos dos teatros. O trabalho todo, que tem, é o Genival, na montagem.

Nós e Valmir Santos no debate depois do espetáculo
Em Porto Alegre tivemos pouco público; cerca de 150 pessoas. Havia mais dois espetáculos acontecendo no mesmo horário e o espectador sempre prefere assistir algo que ele já tem uma vaga ideia do que vai ver. É sempre um mistério tentar imaginar que tipo de teatro se faz em Mato Grosso... É algo que temos que enfrentar na nossa lida e na trajetória de trabalho: o preconceito com o teatro realizado fora do eixo Rio-São Paulo. Esbarramos neste assunto durante o debate com a presença do competente Valmir Santos, crítico de teatro de São Paulo. Contratado pelo SESC-RS para mediar os debates, Valmir forneceu uma leitura muito lúcida do espetáculo, reforçando a estrutura política da obra, e considerando que é um espetáculo que não deixa para trás o risível. Ele conduziu muito bem a discussão, fornecendo os alicerces para uma boa conversa. Os participantes deram seus depoimentos, se dizendo desconcertados com o final do espetáculo, que deixa aberta a possibilidade do espectador sair a hora que quiser. Sentiram falta da convenção teatral, mas reconheceram que a ausência desta convenção provocou uma reação interessante: "o que fazer no final? Para onde devo ir?"

Tati conversando com Valmir Santos
Valmir destacou a proximidade com Beckett, e como o espetáculo não é uma adaptação da obra, e sim, uma "visitação" a essa obra. Isso é uma unanimidade entre os críticos: não copiamos Beckett, estamos dialogando com ele. Outra coisa que Valmir destacou foi o fato de, para ele, não haver personagens, e sim, vozes. E entre essas vozes, as várias sonoridades do espetáculo tomam proporções narrativas, como: o som do isqueiro, das catracas, das roldanas, da mastigação, etc. Os silêncios, portanto, ficam mais significativos. Valmir se deteve em um trecho em específico, do qual eu gosto muito mas que pouco se observa: onde um diz para o outro que vai dividir o dinheiro em partes iguais ou democraticamente, e decidem dividir em partes iguais para que "ninguém saia prejudicado". Valmir ressaltou que a democracia pode ser bom, mas está longe de ser justa.
Um espectador disse que pensou que iria assistir um espetáculo hermético, do tipo "para intelectual" e teve uma grata surpresa quando conheceu nosso trabalho. Ele disse que é um espetáculo "carinhoso" e agradeceu pela apresentação, de termos escolhido Porto Alegre, tão longe, e viajado com aquela máquina tão pesada até a cidade dele. Agradecemos a iniciativa do SESC em proporcionar o circuito do Palco Giratório, pois é só por conta de um projeto como esse que podemos circular. mas é claro que quem escolheu a cidade dele não fomos nós, mas gostamos muito de apresentarmos ali. Um outro espectador ficou indignado com o final fora da convenção e achou monótono. Outra espectadora discordou, dizendo que para ela não foi nada monótono e acho agitado demais. São as várias reações que o espetáculo suscita, justamente porque contracena com o espectador o tempo todo. O ritmo fica muito dependente de qual será a relação entre os personagens e o espectador.
Lia Motta e Tati Horevicht
Nessa apresentação aconteceu um fato inusitado comigo em cena: tive uma reação alérgica por causa do ar condicionado que foi ligado no início da entrada do público, e nos primeiros minutos de espetáculo comecei sem voz nenhuma. Sorte que os deuses do teatro são poderosos e eu ando em dia com minha mensalidade, porque senão, acho que seria uma apresentação perdida. Foi desesperador! Ainda mais nesta apresentação em que estava Valmir Santos, que identificou os personagens como "vozes"...! Quase que vira um monólogo!!
Queremos deixar registrado aqui nosso agradecimento à equipe do SESC-RS, pela acolhida e receptividade. Um grande beijo à Lia, nosso anjo querido e aos motoristas que nos atenderam. Agradecemos, também, a generosidade do Valmir Santos com nosso trabalho. Grande abraço à todos e esperamos nos reencontrar por aí!

Continuaremos postando aqui nossas impressões da turnê do espetáculo CIDADE DOS OUTROS no Circuito Palco Giratório SESC 2014; acompanhe!

CONTATO: ciapessoaldeteatro@gmail.com